sexta-feira, 30 de abril de 2010

UMA RECORDAÇÃO



Júlio Dinis

UMA RECORDAÇÃO

Lembra-me ver-te inda infante, Quando nos campos corrias
Em folguedos palpitantes; Eras bela! e então sorrias.

Depois, na infância, eras inda, Junto ao cadáver rezavas
De tua mãe, com dor infinda; Eras bela! e então choravas.

Num baile vi-te valsando
Da juventude nos dias,
Todos de amor fascinando;
Eras bela! e então sorrias.

Dias depois encontrei-te; Nos céus os olhos fitavas;
Sem me veres contemplei-te; Eras bela! e então choravas.

Quando ao templo caminhando
Entre flores e alegrias,
De esposa a vida encetando,
Eras bela! e então sorrias.

Quando na campa do esposo
Com teu filho ajoelhavas,
Grupo inocente e saudoso!
Eras bela! e então choravas.

Num ataúde deitada
Eu te vi em breves dias,
Mimosa flor desfolhada!
Eras bela! e então sorrias.

Sorrindo, na vida entraste, Sorrindo deixaste a vida; Alguma flor que encontraste A espinhos a viste unida.

Sim, às vezes tu sorrias, E os sorrisos o que são?
Quase sempre profecias
Das penas do coração.

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